Por Yasmin Andrade dos Santos e Maria Natália Leite de Medeiros-Santana
Você sabia que saúde da boca (oral) está relacionada às condições sociais, econômicas e culturais da população? Essas condições incluem hábitos alimentares, renda familiar, trabalho, nível de escolaridade, lazer, estilo de vida, acesso aos serviços de saúde e de educação em saúde.
Um dos problema mais comuns relacionados às doenças orais na população geral é a cárie dentária. Pessoas que nascem com fissuras labiopalatinas apresentam um maior risco de ter cárie, principalmente quando crianças. Este risco ocorre por conta de alterações anatômicas decorrentes da fissura, dentes mal posicionados ou que têm formato diferente, cicatrizes mais fibrosas pós-cirúrgicas e respiração oral. Com isso, a limpeza diária de forma eficiente é dificultada e restos alimentares são acumulados na região, favorecendo o acúmulo da placa bacteriana no local.
Quando bebês, as crianças com fissura de palato (acompanhadas ou não da fissura de lábio) apresentam maiores dificuldades para serem amamentadas. Assim as mamadeiras são, frequentemente, utilizadas como facilitadoras da alimentação. Na maioria das vezes, o leite ofertado é preparado com açúcar ou com cereais industrializados que contêm grande quantidade de carboidratos em sua composição. Açúcares e carboidratos são considerados causadores de cárie e, caso a higiene oral não seja realizada, o bebê passará a ter mais chances de desenvolver esta doença.
Assim, é muito importante iniciar os cuidados com a saúde bucal o mais cedo possível, antes mesmo dos primeiros dentes nascerem. A limpeza diária da boca com gaze ou fralda embebida em água filtrada ou soro fisiológico contribui para o aprendizado e desenvolvimento do hábito de higiene oral do bebê.
Alguns pais e/ou cuidadores, por medo ou receio de machucar o bebê e causar dor no local da fissura ou preocupados com as dificuldades iniciais relacionadas à alimentação, à saúde auditiva e aos tratamentos médicos e cirúrgicos necessários ao seu bebê, não priorizam a higienização adequada da boca, fato que pode trazer grandes prejuízos à criança.
Quando os primeiros dentes nascem, a escovação utilizando escova de cerdas macias, tamanho adequado à boca do bebê e pequena quantidade de creme dental (tamanho de um grão de arroz), prevenirá futuras doenças orais. Os hábitos de higiene oral serão essenciais para a realização dos procedimentos cirúrgicos no tempo correto.
O acompanhamento odontológico periódico é essencial, mas os cuidados de higiene diários em casa, sob supervisão dos pais e/ou cuidadores fará grande diferença para saúde oral das crianças. De maneira geral, para crianças maiores, indica-se a utilização de escovas de dente convencionais com diferentes angulações, fio dental, cotonetes ou escovas de dente unitufo. É preciso, também, balancear a alimentação com alimentos mais nutritivos e evitar a adição de açúcar, mel, achocolatados e carboidratos ao leite ou à dieta de maneira geral.
Referências
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